sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Resenha: Somos os que tiveram sorte, Georgia Hunter

Oii, gente, tudo bem?
Hoje tem resenha de um livro muito emocionante!
Confira!

Somos os que tiveram sorte da autora canadense Georgia Hunter, é um romance emocionante e dolorido baseado em fatos reais.

Eu amo ler livros sobre a segunda guerra mundial, porque relembrar nos faz lutar para que aquele inferno não se repita. Mas, são leituras tristes e sofridas.

Aqui acompanhamos vários membros da família judia Kurc.

Todos vítimas do holocausto, todos, lutam, o livro todo para sobreviverem e se reencontrarem.

O Brasil aparece no livro de uma forma bem legal, que representa um pouco da libertação.

Adorei a leitura, não quero dar muitos detalhes para não soltar spoiler, mas eu chorei em algumas partes, sofri com eles, temi ter que viver uma guerra assim um dia, me revoltei muito!

São vários personagens e cada passará por essas lutas, mas a que mais me tocou foi a Nechuma, com seu coração dilacerado, me angustiei por essa família e todos demais personagens.

Tantos judeus foram eliminados pelo holocausto. Gente, como as pessoas deixaram isso acontecer? Nunca canso de me perguntar...

Um livro triste, mas com personagens batalhadores e cativantes. Uma leitura que vale muito a pena!

Leiaaaaaam!

Essa é a quinta resenha de fevereiro do Desafio Literário Livreando 2020.
Da opção: baseado em fatos reais.
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Beijinhos,
Ana M.

Resenha: Carolina se apaixona, Federico Moccia

Oii, gente, tudo bem?
Hoje tem resenha de um autor que eu estava ansiosa para ler!
Confira!

Faz anos que quero ler algum dos livros do autor italiano Federico Moccia. E Carolina se apaixona é bem o estilo YA que curto para relaxar!

Porém, confesso que foi uma leitura que me trouxe altos e baixos.

Gostei de alguas partes, e detestei outras! kkkk

Como tem 400 páginas, é um livro enorme, e acompanhamos Carolina, uma jovem de 14 anos, que vive seu primeiro amor! E com que intensidade ela vive!

Ao mesmo tempo em que é lindo e romântico vê-la sonhar e suspirar, é também constrangedoras e imaturo demais as suas trapalhadas!

Junto das amigas, na escola, ela apronta muito para viver tudo que se deve esperar de um grande amor, porém, Massi, seu amor, não é tão convincente assim, dando espaço para novos meninos entrarem em sua vida e muitas confusões, decepções e lágrimas!

Achei a escrita do autor muito confusa! Mudava de assunto do nada, de uma forma bem aberta e sem fechar os ciclos que começou. Parecia que divagava o tempo todo.

Os dramas todos da protagonistas são bem juvenis, mas achei que faltou mais personalidade nela, sabe, ela foi uma personagem que aceitava tudo, não tinha muitas ambições pessoais.

Outra coisa que me incomodou também foram algumas atitudes tão atiradas da Carolina! Gente, 14 anos é criança ainda! My God! Fiquei de boca aberta, mas não posso soltar spoiler! hehehe

O final foi até que legal, não do jeito que eu queria e esperava, mas foi bom sim, e fofinho!

É um livro bem raso e leve, sessão da tarde mesmo só pra relaxar!

Essa é a quarta resenha de janeiro do Desafio Literário Livreando 2020.
Da opção: autor italiano.
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Beijinhos,
Ana M.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Resenha: Um sedutor sem coração, Lisa Kleypas (Série Os Ravenels #1)

Bom dia, gente!
Tudo bem?
Hoje tem resenha de um romance de época bem fofinho!
Confira!

Um sedutor sem coração da autora americana Lisa Kleypas, é o primeiro da série de época Os Ravenels, que têm feito tanto sucesso!

Gostei, achei a história divertida e beeeeem família!
Embora não tenha amado, pelo simples fato: a mocinha é muito chata! kkkkk

Devon é um libertino acomodado e sem desejo de construir uma família. Vive na farra com West, seu irmão. Após a morte de um primo, ele herda sua propriedade, suas inúmeras dívidas, as irmãs e a viúva do falecido!

Kathleen, a viúva, é uma moça muito forte, guerreira, que faz de tudo para se dar bem com todos, ajudar mesmo, e mesmo tendo perdido o marido com apenas três dias de casados, ela ainda busca força para lutar pela propriedade. 

Quando os beberrões, Devon e West chegando querendo botar tudo à venda, ela fica uma pilha de nervos. Mas, aos poucos, faz amizade com West e as coisas vão se encaixando.

Eu admiro muito a Kathleen, achei ela determinada, corajosa, porém, muito chata e reclamona, queria arrumar treta com o Devon por causa de tudo.

Assim, o romance entre eles, embora tenha nascido rapidamente, foi cansativo e sem muito romântismo devido a tantas tretas! kk

O West foi maravilhoso! Começou insuportável e terminou maravilhoso! De bêbado, ele termina o livro tão responsável e fofo! Que homão ele ficou! Adorei a transformação dele, porém, achei que foi super rápida, foi só levar um pito da Kathleen, que já partiu pra new life, rsrs

As três irmãs do falecido são incríveis! Cada uma tem sua personalidade e são muito geniosas, engraçadas e meigas. Não vejo a hora de ler os livros delas!

Eu, que não sou muito de romance de época, gostei muito.
Acho que o casal poderia ter sido mais fofos juntos e tal, a Kathleen realmente me irritou, mas, foi uma leitura boa e vou sim continuar a série!

Essa é a terceira resenha de fevereiro do Desafio Literário Livreando 2020.
Da opção: romance de época.
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Beijinhos,
Ana M.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Resenha: Ladrão de almas, Alma Katsu (Trilogia #1)

Boa noite, gente!
Tudo bem?
Bora para mais uma resenha de um livro que eu queria ler há 6 anos!
Confira!

Conheci Ladrão de Almas, da autora americana Alma Katsu, em 2014, e desde então, sou louca para lê-lo!
Ano passado, em novembro, minha melhor amiga me deu ele de presente e li os três primeiros capítulos, mas como eu estava muito triste por alguns problemas pessoais, acabei colocando-o de lado, porque se me obrigadasse a ler, não iria aproveitar a leitura, né?

Pois então, sexta passada retomei a leitura e amei adentrar nessa universo fantástico, que me fez perder o sono e pensar em mil e uma possibilidades!

A história é sobre Lanny, que após conhecer o médico, Luke, ao ser examinada por ele, depois de ser presa por matar um homem, lhe implora que ele a ajude a fugir, provando a ele que é imortal e que tem uma história e tanto sobre isso.

Luke, vivendo um período depressivo e impressionado com a prova de imortalidade que Lanny lhe dá, aceita, e nessa fuga, ela vai contando sua história e nos envolvendo mais e mais.

No passado, numa cidade chamada St. Andrew, Lanny vivia com sua família, numa aldeia pobre e pacata, fria e distante de tudo. Desde pequena era apaixonada pelo jovem rico e promissor, Jonathan. Na adolescência eles começam um caso que renderá muitas lágrimas e dores, e depois de aprontarem muito, muito mesmo, Lanny é obrigada a fugir para Boston. Chegando lá, ela conhece Adair, um homem lindo, cruel e que esconde um grande segredo.

É abusada por ele, e ao quase morrer, ele lhe dá de uma forma bem peculiar, a imortalidade, lhe fazendo ser sua escrava de diversas maneiras, além de contar uma história bem interessante sobre como ele se tornou tudo o que é.

Enfim, não posso dar mais detalhes, mas a narrativa é cativante e a cada capítulo descobrimos novas coisas.

A Lanny é obrigada a ficar com o Adair e outros cortesões, o que achei bem complicado e muito sofrido para ela.

Seu amor pelo Jonathan é extremamente obsessivo, o que faz dela vilã, muitas vezes.

O segredo de Adair só descobri nas últimas páginas e fiquei surpresa, nossa, eu jamais imaginava aquilo tudo!

Gostei, tem muita fantasia, reviravoltas e um novo mundo, novos seres, para quem ama livros fantásticos é um prato cheio!

Porém, o final foi bem aberto e deixou muitas questões me cutucando aqui!
Principalmente, porque um personagem mal, que eu acreditava estar sob controle, pode voltar e por tudo a perder!

E eu também queria saber mais sobre o Luke.

Um bom livro, ousado, original e cheio de emoções!

Essa é a segunda resenha de fevereiro do Desafio Literário Livreando 2020.
Da opção: de fantasia.
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Beijinhos,
Ana M.


Resenha: Um ano na selva, Suzanne Collins

Oi, gente, tudo bem?
Hoje tem resenha de um livro que eu estava louca para ler!
Confira!
Um ano na selva da autora americana Suzanne Collins, é um dos livros que eu estava mais ansiosa pra ler, já que a trilogia Jogos vorazes, também da autora, é uma das minhas preferidas da vida.

Esse é um livro rápido de ler, pois têm só 40 páginas, li numa sentada. Porém, ele me fez chorar bem na metade. Sério. Com lindas ilustrações e muita sensibilidade, Suzanne narra um dos períodos mais sombrios de sua vida: quando seu pai foi para a guerra do Vietnã, em sua infância, marcando-a para sempre.

Suzanne e os irmãos entendiam apenas que o pai fora para a guerra, sem compreender o que realmente acontecia lá. Ao ver na televisão a destruição e a morte de soldados, Suzanne fica num estado de medo terrível.

As cartas e cartões postais do pai rareavam, o medo dele não voltar para casa era constante. Nada mais fazia sentido. Noite e dia Suzanne se perguntava "o que era guerra e o que seu pai fazia nessa selva."

Eu temi muito pelo final, mas ele foi beeeem surpreendente pra mim!

Que livro fofo, triste e emocionante!

Agora entendo porque na trilogia Jogos vorazes e na série Gregor the overlander, dela que também já li, Suzanne discorre tanto sobre política e sobre a falta de esperança em governantes direitos e justos. É por experiência própria :(

Um livro sob a visão que a autora tinha quando criança sobre a guerra, a vida sem seu pai e a perda da inocência de acreditar num futuro melhor e seguro.

Leiam!

Essa é a primeira resenha de fevereiro do Desafio Literário Livreando 2020.
Da opção: capa colorida.
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Beijos,
Ana M.

Resenha: O dia em que Caco Botão ficou sem energia, Suzanne Collins

Oi, gente, tudo bem?
Hoje tem resenha de um livro que eu queria ler há muitos anos!
Confira!

O dia em que Caco Botão ficou sem energia é um livro fofo da autora americana Suzanne Collins. Gente, amo muitooo Jogos Vorazes, e achei esse livro infantil dela um amorzinho!

Fazia tempo que queria comprá-lo, até que achei ele e Um ano na selva (que sairá resenha daqui a pouco) em promoção.

E vejam só! Li os dois numa sentada só!

Aqui nessa história conhecemos Caco Botão, que ao ficar sem energia, quase enlouquece, sem vídeo-game e "mais nada para fazer".

Até que ele se lembra das pilhas que podem fazer alguns de seus brinquedos funcionarem, porém, ele também não tem pilhas!

Mas sua irmã, Isabel, tem uma boneca falante, e assim, correndo atrás de "pegar" as pilhas da boneca da irmã, Caco começa a brincar com Isabel e se "lembra" de que tem uma irmã, muito legal, querida e divertida, por sinal!

O livro é curtinho, mas muito gostoso e divertido de ler, além de nos trazer esse questionamento sobre o quanto perdemos tempo com internet e eletrônicos e deixamos de passar mais tempo com a família, amigos e todos que amamos. Chega uma hora que até esquecemos como se vive sem um smartphone conectado, não é mesmo?!

Enfim, uma leitura rápida, encantadora e com uma mensagem que ficou no meu coração. Ainda mais que estou há 13 dias usando a internet apenas para divulgações e estudos. E, olha, realmente, meu tempo tem rendido bem mais! kkkkkk

Indicadíssimo!

Esse livro foi lido para o #DesafioBooksAtNoon2020 do tema ler um livro em que a autora ganhou prêmios, e a Suzanne ganhou muito, entre eles:  Dorothy Canfield Fisher Children's Book Award (2010) · Teen Choice Award: Melhor Livro (2012) · Hal Clement Award (2009) · Nickelodeon Kids' Choice Award: Melhor Livro (2013) · California Young Reader Medal: Young Adult (2011) · Cybils Awards For Fantasy & Science Fiction -- Young Adult (2008)

Beijinhos,
Ana M.


sábado, 15 de fevereiro de 2020

Conto: Superando uma má fase, Ana I. J. Mercury

Olá, galerê, tudo beleza?
Já que me expus na chuva, vou acabar de me molhar! rsrsrsrs
Como no post anterior publiquei o meu conto Um casamento em 2086 (leia aqui!), resolvi postar esse outro conto que escrevi em novembro de 2019, para participar de um projeto em um grupo do Facebook, e que apesar de ser inteiramente ficcional, me traz lembranças da minha infância.

Confira aí! 

Superando uma má fase
Ana I. J. Mercury

1
   Enquanto retiro meu surrado exemplar de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban da estante, abarrotada até o teto, reflito como minha vida vinha mudando neste último ano.
   Após a perda de meu avô, já na casa dos 90, uma depressão forte e traiçoeira me pegou. Por mais que eu saiba que meu avô, Thiago, tivera uma vida longa e feliz, era como se tivéssemos passado poucos meses juntos. 
   Desde pequeno eu era acostumado com suas histórias de vida e seu amor pelos livros. Foi ele quem me ensinou a ler, mesmo antes de eu entrar na pré-escola, com cinco anos. Foi ele quem comprou meus primeiros livros de piratas, animaizinhos, e mais tarde da incrível coleção Vaga-lume. E também foi ele, quem muito insistiu com minha mãe, até ela perder o receio e me deixar adentrar no mundo mágico de Harry Potter. Minha mãe era meio cabreira com livros de fantasia.
   Rio observando a capa do meu volume preferido da série. Meu avô comprou um por um, lia junto comigo e ficávamos até tarde da noite debatendo sobre o que aconteceria e qual seria o final do bruxinho mais amado da ficção.
   Minha avó, Luiza, faleceu anos antes de eu nascer e os pais da minha mãe moram em outro estado, assim, vovô Thiago foi minha única referência sobre avós, e sinceramente, eu não poderia ter tido um avô melhor. 
   Até que, ano passado, seu coração tão esperto e valente, foi enfraquecendo aos poucos, e mesmo com dor, ele sorria e fazia piadas, enquanto eu lia nas visitas ao hospital, e depois, em seus últimos dias de vida em casa, quando seus olhos já falhavam miseravelmente.
   Embora a morte seja algo natural da vida, foi extremamente cortante. É estranho e interessante fechar esse ciclo. Por anos, quando eu mal falava, era ele quem lia para mim, e em seu último ano de vida, era eu quem lia para ele. Livros era a nossa ligação mais intensa. O fio que nos uniu desde o princípio e o que nos deu forças até o fim. Porém, eu eu não via mais graça nenhuma em ler depois de sua partida. 
   Uma ressaca literária me pegou. E por meses fiquei imerso numa depressão incontida. Tudo me doía. Era difícil levantar, ir para o colégio, conviver com as pessoas normalmente. Era como se me faltasse um órgão vital. Minhas notas caíram drasticamente e quase reprovei de série.
   Infelizmente, a diretora ligou para a minha mãe, que foi — reclamando muito — ao colégio explicar minha queda. Ao saber do ocorrido e do meu problema com o luto, o professor de literatura — tinha que ser! — Carlos, veio conversar comigo. Tremi, a raiva chegou petulante, me preparei para a bronca de peito estufado, pronto para retrucar. E qual não foi a minha surpresa, ao ser convidado a ir visitar um asilo com ele. Eu nem sabia que tinha um asilo em minha cidade!
   — Daniel, sei de sua perda e que nada poderá mudar isso. Mas, naquele asilo têm muitos avôs e avós precisando de uma atenção, de um carinho de neto. E você precisa seguir em frente. Nada melhor do que conversar com quem sabe o que é a solidão e a perda. O que me diz? Eu sempre vou lá bater um papo, tocar violão e ler para eles. Vamos?
   Fiquei de pensar, o professor ia toda quarta e sexta, como ele tinha conversado comigo na segunda, deixei passar a quarta. No entanto, na sexta algo queimava dentro de mim. E me surpreendi ao perceber que era a vontade, a curiosidade e a ansiedade de conhecer essas pessoas, saber de sua história, de sua família, de seus sonhos... Será mesmo que eu deveria tentar?
   A falta de vovô ninguém mudaria, nada ocuparia o buraco em meu peito que ele deixou ferroando. Contudo, sei que ele queria o melhor para mim. Sempre me amou, sempre sonhou os meus sonhos e me acompanhou em cada momento de felicidade e de decepção. Eu sei que para honrar todo o esforço que ele fez por mim eu precisava seguir em frente. Ao mesmo tempo, tenho medo de esquecê-lo. Medo de ser feliz novamente. Porque não é justo. Não sem ele.

2
   Com raiva de mim mesmo, acabei indo naquela sexta-feira e a partir daí minha vida mudou completamente.
   Senti uma aprovação dentro de mim, desde a primeira vez que pus meus pés naquele pátio do asilo São Gabriel.
   O asilo era um casarão grande, arejado, colorido por diversas flores e cadeiras de área espalhadas pelo pátio. Lá, a maioria dos velhinhos ficavam esperando os voluntários chegarem. O professor Carlos me explicou no caminho, que algumas igrejas e colégios da região sempre iam a tarde visitá-los, levar uma comida diferente, fazer doações de roupas e alimentos ou apenas papear e divertir os velhinhos.
   Logo que chegamos, o professor me apresentou a todos, e uau!, ele conhecia todos mesmo! Fui abraçado pelas avozinhas, apertei as mãos e pedi a bênção para muitos avozinhos e foi tudo tão calmo, tranquilo e alegre que, por um momento, aquela dor sufocante em meu peito relaxou e pude sorrir novamente. Não com tanto ardor como eu ria até a barriga doer com vovô Thiago, mas eu fui feliz, naqueles sessenta minutos ali, rodeado de desconhecidos que me trataram com tanto carinho e simplicidade.
   A dona Vitória, uma senhora muito vivaz e querida, me contou que estava lá há quatro anos. Seu filho era um empresário muito rico e ocupado, que acabou se mudando para o exterior e preferiu deixá-la lá. Fazia um ano e meio que ela não o via, e o que mais lhe doía não era apenas o abandono do filho, como também, a saudade dos netos. A vontade de lhes contar sobre a suas lutas na vida, seu amor pelo avô falecido e as peripécias do filho quando criança. Senti meus olhos arderem ao ouvi-la. Como o filho pode ter abandonado-a? Uma senhorinha tão meiga e cativante! Sentia muito por ela, porque eu também me sinto abandonado por vovô.

3
   Tomo um copo d'água para refrescar a garganta. Ah! Quem eu estou querendo enganar? É, tento aliviar o bolo que se fez em minha garganta ao me recordar desse meu primeiro dia, e da dor antiga e paralisante da perda de vovô. Hoje, seis meses após minha primeira visita ao asilo, me sinto renovado, e sei que Deus — e quem sabe tenha o dedo de vovô nisso! — me deram uma nova chance de viver, amar, crescer e olhar para o ser humano de uma nova forma. 
   O asilo São Gabriel me ajudou a sair daquela depressão pós-luto. Ainda dói demais a saudade de vovô. Às vezes, ao acordar ainda acho que ele está vivo. E quando acontece algo muito bom ou muito ruim, corro pegar o celular ou vou em direção ao seu quarto para lhe contar, como eu fazia sempre quando ele estava aqui. 
   É isso, é mais que um costume. É amor, é uma ligação, é uma eterna parte de mim. Sempre estaremos juntos ligados pelo amor e pelos momentos que compartilhamos. E sei que um dia o encontrarei no paraíso. 
   Por ora, corro pegar minha bicicleta e minha mochila, que minha mãe fez o favor de colocar dentro, um pote com seu bolo de cenoura famoso, em cima da mesa, especialmente para a turma do asilo. E pedalo em direção ao futuro e a superação.

4
   Seu Jorge é um senhor de 77 anos, que após ter tido vários problemas cardíacos e ainda precisar de tratamento, resolveu, por fim, viver aqui. De todos os velhinhos, ele é quem mais me afeiçoei. Sua história é bonita, solitária e triste. Quando tinha 24 anos, se apaixonou por uma moça chamada Sara e não foi correspondido. Apesar de ter tido uma vida boa, um emprego bem remunerado, viajado por toda a Europa, estudado numa das maiores faculdades do país, ainda assim, nunca conseguiu esquecê-la. Seguiu com a vida solteiro e infeliz. Ao perder os pais, como filho único, continuou nessa solidão até a idade cobrar e algumas doenças chegarem. 
   Compreendendo que não poderia continuar sozinho, que não conseguiria fazer tudo como antes, cuidar da casa e de si mesmo, foi para o asilo. Sem esperanças, nem sonhos, esperando a morte chegar. Sua única vontade era sair deste mundo que só lhe trouxe amargura. Mas lá, com os outros senhores, fez amigos e conseguiu se animar, ter vontade de continuar.
   Quando eu comecei as visitas, ficava apenas atrás do professor Carlos, sem saber bem o que fazer. Até que um dia, meio encabulado, puxei assunto com seu Jorge e contei, sabe-se lá o porquê, de meu avô e do nosso amor pelos livros. Ele me pediu, encarecidamente, se eu poderia ler para ele também. E, bem, assim nos tornamos grandes amigos.
   Eu estava relendo para mim e lendo pela primeira vez para ele a série Harry Potter. E que animação e curiosidade esse homem ficava! As cuidadoras e a dona do asilo até me liberaram para ir lá todos os dias, desde que eu ficasse apenas uma hora, para não cansar demais os meus amigos, e eu lia e lia e lia.
   Seu Jorge nunca faltava nos momentos de leitura, e alguns outros também se sentavam conosco para me ouvir. As avozinhas gostavam mais de conversar e cantarem juntas com Carlos e os outros voluntários. 
   E eu e seu Jorge tínhamos papos sérios sobre como derrotar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado* e se o Harry sairia inteiro dessa! É claro que eu já sabia de cor o final, mas deixei a empolgação de seu Jorge tomar conta!

5
   Abro o portão do asilo, com o coração enternecido e uma agitação dentro de mim! Estou ansioso para terminarmos Prisioneiro de Azkaban! Esse livro é muito incrível e fico imaginando a surpresa que o seu Jorge e outros senhorzinhos terão com a verdade sobre o Sirius Black!**
    — Chegou, meu neto-postiço querido! — exclama seu Jorge vindo me encontrar no portão.
    — Seu Jorge — cumprimento-o com um abraço de lado, sorrindo. Ah! Esse meu avô postiço…
  — Me conta tudo do seu encontro com a mocinha bonita do curso de inglês! — indaga ele entusiasmado, referindo-se a minha crush, Lucy. Por que eu fui contar pra ele dela? Que vergonha.
    — Primeiro, vamos terminar o livro! - respondo rápido sentindo meu rosto queimar.
   E assim caminhamos juntos em direção ao pátio e aos novos começos e amizades.

Fim

Pra quem não leu Harry Potter:
*Lord Voldemort, vilão na série.
**Sirius Black é um dos personagens principais.

Conto: Um casamento em 2086, Ana I. J. Mercury

Oii, gente, tudo bem?
Hoje eu vim contar uma novidade!
Nesse começo de ano, fiz um curso de escrita de 10 exercícios do @pula1linha muito legal e que me fez pensar muito! 😍😁
E um dos exercícios era escrever como seria um casamento em 2086 pela visão de uma convidada. E descrever o que teria dos dias atuais daqui a 66 anos.
Eu fiquei pensando em colocar Extraterrestres entre nós, hahahaha, mas, ao me recordar de algumas distopias que li, em que as pessoas não podiam escolher seus cônjuges, escrevi esse conto e queria compartilhá-lo com vocês! 💝

Um casamento em 2086
Ana I. J. Mercury
Finalmente o casamento da Stephenie com o Maurício. Que festa esplendorosa! Pegou a todos de surpresa. Aliás, todo o relacionamento deles nos surpreendeu.
       Na atualidade, 2086, casamentos por amor não existem mais. Os jovens satirizam quando encontram nas caixas de velharias dos pais, com singelas e encantadoras fotografias dos casamentos de seus avós e bisavós, a prova do que um dia foi a grande celebração do amor. Agora, assinamos apenas um contrato de sociedade perante o juiz e duas testemunhas, para selar o destino de um casal que confiou um no outro para se ajudar nos projetos administrativos. As porcentagens bem calculadas e divididas no cartório, e assim, seguimos sócios casados e não mais parceiros de vida.
       Sinto falta da minha infância, ainda existiam poucos que se casavam por amor e era tudo tão lindo. Os detalhes todos que envolvem o romantismo me arrebatam. Mas nunca realizei o sonho de me casar desse jeito, livre de amarras e sem pensar em ser uma reles sócia, ao invés de esposa.
       A noiva vem entrando de braços dados com o pai, deixando todos de boca aberta com a ousadia de usar a tal marcha nupcial. Meus olhos ficam umedecidos ao visualizar minha prima de segundo grau realizar o que sempre sonhei. Mesmo aos 71 anos, ainda há em mim aquela doce mocinha à espera de seu amor.
       Ao se aproximar do altar, o noivo enlaça em seu braço com um sorriso orgulhoso e o pastor dá início a cerimônia. Presto atenção, embora meus olhos insistem em reparar em cada detalhe tão precioso e raro: o vestido de renda branca adornado com um véu e uma tiara de flores, que deixam a noiva com uma aparência angelical. As flores coloridas de seu buquê, que logo mais será jogado para as solteiras da festa, "será que devo tentar pegá-lo?", me questiono, e rio em seguida, de mim mesma.
    Toda a decoração é inspirada nos casamentos dos anos 1990, com muitos doces e um bolo enorme decorado com flores de açúcar. Numa vitrola - sim, elas existem! - toca uma doce e esperançosa canção, Love of my life, de uma banda que ainda é muito amada, o Queen. No carro dos noivos têm latinhas amarradas no para-choque para que todos que cruzarem com eles pelas ruas hoje, saibam que são recém-casados. E agora a valsa começa fazendo meu coração explodir de ternura e sonhos.


Beijos,
Ana M.